5.5.05
AO GOSTO DE TODOS - Não temos notícia de crítico tecnocrata que não torça o nariz diante de um público regido pelo gosto. Qualquer demonstração de diletantismo ou prazer é severamente condenada por essa crítica tão desgostosa quanto o pedreiro que passa seus dias entre o cimento e o tijolo das novíssimas dependências de uma biblioteca pública. Se a esse cabe a firmeza das fundações, aquele ficará incumbido do desempenho das prateleiras. O trabalho de ambos deve ser avaliado sob o mesmo critério físico - de seu sucesso dependerá a segurança daqueles que circulam pelo edifício.
Para o desespero de nossos scholars, o gosto é o mais consagrado dos critérios de julgamento da obra de arte. Dificilmente encontraremos um cidadão comum a par das últimas revelações acadêmicas, julgando os livros que lê segundo perspectivas marxistas ou desconstrucionistas. Irmão da opinião e de outros tantos gestos liberais, o gosto ocupará o lugar abandonado pela antiga agudeza do engenho seiscentista para a salvação ética e espiritual do burguês distinto. Entregue ao sublime, o gênio burguês põe fim ao argumento de utilidade e afeta prazeres, que mesmo em suas formas sádicas, não deixam de pagar tributos à boa e velha - com o perdão da cacofonia, caro leitor - divisão do trabalho. O crítico, outrora um mero compilador e organizador de opiniões de circulação diária, ganha estatuto acadêmico e forja sua ciência à medida que atualiza a fórmula clássica - docere, delectare -, seguindo aqui as diretrizes da nova ordem. A frustração que consta dos diários de alguns advogados ingleses medíocres - os primeiros a serem alocados na nova scientia litterarvm, fundada nas universidades inglesas para a instrução de cidadãos de segunda classe - nos ensina que a profissionalização do crítico não ocorreu sem crise no tradicionalíssimo bacharelado.
O caminho prazeiroso para a conclusão desta fábula reserva ao crítico uma maldição. Condenado a verter prazer em dever, só lhe resta assombrar leitores desinteressados com o fantasma da Futilidade. Por outro lado, sem abandonar o pobre acadêmico, poderíamos encerrar a estória de modo mais elaborado, aproveitando a ocasião para celebrar sua consciência e empenho educativo frente a ignorância e a mentira que assolam a massa. Para justificar ambos os lados, faço minhas as palavras daquele mesmo pedreiro, pitoresco para uns, representativo para outros: cabe tudo no mesmo saco.
AO GOSTO DE TODOS - Não temos notícia de crítico tecnocrata que não torça o nariz diante de um público regido pelo gosto. Qualquer demonstração de diletantismo ou prazer é severamente condenada por essa crítica tão desgostosa quanto o pedreiro que passa seus dias entre o cimento e o tijolo das novíssimas dependências de uma biblioteca pública. Se a esse cabe a firmeza das fundações, aquele ficará incumbido do desempenho das prateleiras. O trabalho de ambos deve ser avaliado sob o mesmo critério físico - de seu sucesso dependerá a segurança daqueles que circulam pelo edifício.
Para o desespero de nossos scholars, o gosto é o mais consagrado dos critérios de julgamento da obra de arte. Dificilmente encontraremos um cidadão comum a par das últimas revelações acadêmicas, julgando os livros que lê segundo perspectivas marxistas ou desconstrucionistas. Irmão da opinião e de outros tantos gestos liberais, o gosto ocupará o lugar abandonado pela antiga agudeza do engenho seiscentista para a salvação ética e espiritual do burguês distinto. Entregue ao sublime, o gênio burguês põe fim ao argumento de utilidade e afeta prazeres, que mesmo em suas formas sádicas, não deixam de pagar tributos à boa e velha - com o perdão da cacofonia, caro leitor - divisão do trabalho. O crítico, outrora um mero compilador e organizador de opiniões de circulação diária, ganha estatuto acadêmico e forja sua ciência à medida que atualiza a fórmula clássica - docere, delectare -, seguindo aqui as diretrizes da nova ordem. A frustração que consta dos diários de alguns advogados ingleses medíocres - os primeiros a serem alocados na nova scientia litterarvm, fundada nas universidades inglesas para a instrução de cidadãos de segunda classe - nos ensina que a profissionalização do crítico não ocorreu sem crise no tradicionalíssimo bacharelado.
O caminho prazeiroso para a conclusão desta fábula reserva ao crítico uma maldição. Condenado a verter prazer em dever, só lhe resta assombrar leitores desinteressados com o fantasma da Futilidade. Por outro lado, sem abandonar o pobre acadêmico, poderíamos encerrar a estória de modo mais elaborado, aproveitando a ocasião para celebrar sua consciência e empenho educativo frente a ignorância e a mentira que assolam a massa. Para justificar ambos os lados, faço minhas as palavras daquele mesmo pedreiro, pitoresco para uns, representativo para outros: cabe tudo no mesmo saco.
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