30.5.05

ORGULHO E CONSCIÊNCIA - Como o nome bem diz, trata-se de ação afirmativa. Mediante orgulho e consciência, grupos se organizam e comunicam relevância, autoridade, arbítrio e condição perante o mundo. Assim, adotam a discriminação - ela veste roupas mais dignas: diversidade, por exemplo - como modo de se articularem. Não me parece que organizações contra o preconceito pretendam extinguir o preconceito; seu maior objetivo é sim o de usá-lo em benefício próprio - leia-se: corporativo - criando por vezes estados de exceção donde não se distinguem dos próprios carrascos. Observamos com freqüência que a força de seus atos não decorre do gesto político, mas de modelos policiais e de vigilância de um certo "indivíduo comum", ao qual se impõem inúmeras censuras, penas e correções, cujo coroamento só poderia ocorrer com a expedição de habeas corpus para nascer, já que as certidões de nascimento contemplam nada além do "pouco afeito a idiossincrasias".
Se o simples ato de colocar em questão o fundamento dessas organizações de orgulho, consciência ou integração causa constrangimento e indignação, acompanhadas de desditos e vênias intermináveis, devemos atentar ao regime predominantemente técnico do debate. Há muito não vivemos em uma sociedade de "opinião", termo que os tempos têm colocado ao lado de palavras inócuas e irritantes como "sugestão" ou "conselho". Opinião ou livre pensamento, de um modo geral, não estão autorizados pela letra minuciosa do direito, da ciência e do poder, instâncias em que somos discriminados, ou seja, normalizados em uma necessária diferença. Não é tempo de expressão e a arte leva suas paixões e artifícios maltrapilhos para lugares mais corretos, posto que organizados. Se não queremos demonstrar orgulho ou consciência fora dos protocolos, se repudiamos a palavra da autoridade, a sentença que denota, o martelo e sua norma, o melhor que fazemos é calar. Ou preparar para o pior.

PS1: Todo cidadão comum poderia trazer em seus documentos, ao lado de "doador de órgãos", algo como "apoia o cinema brasileiro (os cineastas brasileiros são uma minoria que acumula inúmeras vitórias nos últimos anos), a lei de cotas raciais e a união entre homossexuais", o que evitaria de uma vez por todas possíveis mal-entendidos.
PS2: Do efeito pretendido pela sentença acima, faço mais uma aproximação - "opinião" e "piada" - ainda que as possíveis ramificações desse último termo ("humor negro", p. ex.) não sejam lá muito "corretas".

ORGULHO E CONSCIÊNCIA - Como o nome bem diz, trata-se de ação afirmativa. Mediante orgulho e consciência, grupos se organizam e comunicam relevância, autoridade, arbítrio e condição perante o mundo. Assim, adotam a discriminação - ela veste roupas mais dignas: diversidade, por exemplo - como modo de se articularem. Não me parece que organizações contra o preconceito pretendam extinguir o preconceito; seu maior objetivo é sim o de usá-lo em benefício próprio - leia-se: corporativo - criando por vezes estados de exceção donde não se distinguem dos próprios carrascos. Observamos com freqüência que a força de seus atos não decorre do gesto político, mas de modelos policiais e de vigilância de um certo "indivíduo comum", ao qual se impõem inúmeras censuras, penas e correções, cujo coroamento só poderia ocorrer com a expedição de habeas corpus para nascer, já que as certidões de nascimento contemplam nada além do "pouco afeito a idiossincrasias".
Se o simples ato de colocar em questão o fundamento dessas organizações de orgulho, consciência ou integração causa constrangimento e indignação, acompanhadas de desditos e vênias intermináveis, devemos atentar ao regime predominantemente técnico do debate. Há muito não vivemos em uma sociedade de "opinião", termo que os tempos têm colocado ao lado de palavras inócuas e irritantes como "sugestão" ou "conselho". Opinião ou livre pensamento, de um modo geral, não estão autorizados pela letra minuciosa do direito, da ciência e do poder, instâncias em que somos discriminados, ou seja, normalizados em uma necessária diferença. Não é tempo de expressão e a arte leva suas paixões e artifícios maltrapilhos para lugares mais corretos, posto que organizados. Se não queremos demonstrar orgulho ou consciência fora dos protocolos, se repudiamos a palavra da autoridade, a sentença que denota, o martelo e sua norma, o melhor que fazemos é calar. Ou preparar para o pior.

PS1: Todo cidadão comum poderia trazer em seus documentos, ao lado de "doador de órgãos", algo como "apoia o cinema brasileiro (os cineastas brasileiros são uma minoria que acumula inúmeras vitórias nos últimos anos), a lei de cotas raciais e a união entre homossexuais", o que evitaria de uma vez por todas possíveis mal-entendidos.
PS2: Do efeito pretendido pela sentença acima, faço mais uma aproximação - "opinião" e "piada" - ainda que as possíveis ramificações desse último termo ("humor negro", p. ex.) não sejam lá muito "corretas".