8.6.05

CRIATIVO ESCREVENDO CURSOS... !? - Semana retrasada eu conversava com um amigo escritor cujas opiniões sobre a Faculdade de Letras sempre me pareceram bastante "instáveis". Ilustrando minha caracterização, suas vontades na ocasião tropeçavam entre o desejo de ser um professor concursado do Departamento de Teoria Literária e o desprezo longamente cultivado contra todos os debates da casa e seus possíveis companheiros de trabalho e publicação. Instabilidade, como se vê, é minha demonstração de apreço pela amizade.
Enquanto dividia nossos críticos entre veneno e forca, o "premiado poeta, contista, tradutor e ensaísta" (que, suspeito, seja igualmente laureado enquanto torneiro mecânico, tarólogo e atendente de telemarketing - talento não lhe falta) defendia os tais "cursos de escrita criativa", coisa que em português até parece tradução do Google, o que seria muito bom caso não nos trouxesse a certeza de uma noite de insônia acompanhada pela Sociedade dos Teletubbies Mortos declamando Captain! O My Captain!.
Hoje*** mesmo ouvia um depoimento bastante curioso de Teixeira Coelho acerca da "falta de incentivo governamental à cultura" e de "quão importante seria a cultura brasileira mostrar seu lugar no mundo", embora Oxford esteja mais interessada em Paulo Coelho, um escritor que, "sendo brasileiro", trata "temas universais". Como não bastasse estarmos às vésperas da criação de um novo ministério "cultural" - o Ministério do Cinema Brasileiro -, nossos bons escritores quotidianistas estão loucos por uma boquinha institucional séria. Criação com subsídios, poetas públicos, tradutores juramentados de Keats, prosadores cheios de orgulho sobre suas escrivaninhas estilo Vargas e teatrólogos enchendo repartições como aqueles famosos funcionários que acham tudo bastante "triste" e querem encher de flores e babados o local de trabalho. Nada mais justo para vazar a expressão que causa tanto transtorno ao Google. Ademais, como bem se nota, para a prática do universal e perene, o bom escritor deste país precisa do mesmo "apoio institucional" que um candidato à vaga de gari carioca.
Não acho que a classe média (à qual pertencem os escritores com pouquíssimas exceções) esteja encolhendo. Na verdade, ela só é um montoado de gente que concluiu não ter talento para a burguesia (o que num país que não consegue deixar a condição de monarquia ou ditadura só revela senso de realidade) e expressa seus sonhos de cortesã.
*** Hoje mesmo era dia 4, quando escrevi a postagem.

CRIATIVO ESCREVENDO CURSOS... !? - Semana retrasada eu conversava com um amigo escritor cujas opiniões sobre a Faculdade de Letras sempre me pareceram bastante "instáveis". Ilustrando minha caracterização, suas vontades na ocasião tropeçavam entre o desejo de ser um professor concursado do Departamento de Teoria Literária e o desprezo longamente cultivado contra todos os debates da casa e seus possíveis companheiros de trabalho e publicação. Instabilidade, como se vê, é minha demonstração de apreço pela amizade.
Enquanto dividia nossos críticos entre veneno e forca, o "premiado poeta, contista, tradutor e ensaísta" (que, suspeito, seja igualmente laureado enquanto torneiro mecânico, tarólogo e atendente de telemarketing - talento não lhe falta) defendia os tais "cursos de escrita criativa", coisa que em português até parece tradução do Google, o que seria muito bom caso não nos trouxesse a certeza de uma noite de insônia acompanhada pela Sociedade dos Teletubbies Mortos declamando Captain! O My Captain!.
Hoje*** mesmo ouvia um depoimento bastante curioso de Teixeira Coelho acerca da "falta de incentivo governamental à cultura" e de "quão importante seria a cultura brasileira mostrar seu lugar no mundo", embora Oxford esteja mais interessada em Paulo Coelho, um escritor que, "sendo brasileiro", trata "temas universais". Como não bastasse estarmos às vésperas da criação de um novo ministério "cultural" - o Ministério do Cinema Brasileiro -, nossos bons escritores quotidianistas estão loucos por uma boquinha institucional séria. Criação com subsídios, poetas públicos, tradutores juramentados de Keats, prosadores cheios de orgulho sobre suas escrivaninhas estilo Vargas e teatrólogos enchendo repartições como aqueles famosos funcionários que acham tudo bastante "triste" e querem encher de flores e babados o local de trabalho. Nada mais justo para vazar a expressão que causa tanto transtorno ao Google. Ademais, como bem se nota, para a prática do universal e perene, o bom escritor deste país precisa do mesmo "apoio institucional" que um candidato à vaga de gari carioca.
Não acho que a classe média (à qual pertencem os escritores com pouquíssimas exceções) esteja encolhendo. Na verdade, ela só é um montoado de gente que concluiu não ter talento para a burguesia (o que num país que não consegue deixar a condição de monarquia ou ditadura só revela senso de realidade) e expressa seus sonhos de cortesã.
*** Hoje mesmo era dia 4, quando escrevi a postagem.