11.8.05
LENDO LENTAMENTE ROBINSON CRUSOE: AS RAZÕES - Quando criança, peguei uma bela pneumonia e passei quase um mês sem conseguir dormir. Sabendo de minhas longas noites de insônia, minha mãe resolveu aproveitá-las com um programa de educação à distância: deixou comigo um exemplar de O Pequeno Príncipe, com a promessa de que o livro não apenas faria passar o tempo, como me deixaria com sono o bastante para capotar sentado. Li o livro com certo gosto e melhorei junto com ele. Depois agradeci enormemente a companhia do pequeno príncipe e esqueci de todo a literatura para me dedicar à leitura de enciclopédias, que ficavam empoleiradas dentro do armário sem que eu pudesse suspeitar de que me ensinariam coisas muito mais inúteis (e aprazíveis) do que as paixões e a ética que envolvem a imitação das ações humanas. Comecei cedo demais no Freakonomics.
Assim, para ganhar alguns conhecimentos de mineralogia e taxonomia tive de perder aquilo que se convém chamar "educação humanística". Substituia sem dramas "Don Quixote" por "Saavedra, Miguel de Cervantes (1547-1616)"; os mapas demográficos da Grécia eram muito mais interessantes do que qualquer narrativa infantil dos doze trabalhos. Lobato nem pensar: as figuras, os gráficos, os mapas, as projeções catastróficas para o ano de 1988 me satisfaziam com as potencialidades de seu masoquismo. Entretanto, com o passar dos anos, notei que essa não era a socialização mais adequada. Depois entendi que as moedas nacionais, as rochas magmáticas e o pássaro dodô de Madagascar mudavam muito com o passar dos tempos, mesmo quando extintos. As enciclopédias se tornavam artigo de colecionador. Hoje tenho de correr atrás do tempo perdido para virar o pequeno humanista que não fui. Cuidar das cousas que não morrem. Ou melhor: ser poupado do processo de morrer. Durante o fim do comunismo, não larguei um só momento do meu globo terrestre. Quem acompanha a dor alheia sabe o quanto é doloroso.
Daí a leitura de Robinson Crusoe, um clássico, posto que imortal.
Assim, para ganhar alguns conhecimentos de mineralogia e taxonomia tive de perder aquilo que se convém chamar "educação humanística". Substituia sem dramas "Don Quixote" por "Saavedra, Miguel de Cervantes (1547-1616)"; os mapas demográficos da Grécia eram muito mais interessantes do que qualquer narrativa infantil dos doze trabalhos. Lobato nem pensar: as figuras, os gráficos, os mapas, as projeções catastróficas para o ano de 1988 me satisfaziam com as potencialidades de seu masoquismo. Entretanto, com o passar dos anos, notei que essa não era a socialização mais adequada. Depois entendi que as moedas nacionais, as rochas magmáticas e o pássaro dodô de Madagascar mudavam muito com o passar dos tempos, mesmo quando extintos. As enciclopédias se tornavam artigo de colecionador. Hoje tenho de correr atrás do tempo perdido para virar o pequeno humanista que não fui. Cuidar das cousas que não morrem. Ou melhor: ser poupado do processo de morrer. Durante o fim do comunismo, não larguei um só momento do meu globo terrestre. Quem acompanha a dor alheia sabe o quanto é doloroso.
Daí a leitura de Robinson Crusoe, um clássico, posto que imortal.
LENDO LENTAMENTE ROBINSON CRUSOE: AS RAZÕES - Quando criança, peguei uma bela pneumonia e passei quase um mês sem conseguir dormir. Sabendo de minhas longas noites de insônia, minha mãe resolveu aproveitá-las com um programa de educação à distância: deixou comigo um exemplar de O Pequeno Príncipe, com a promessa de que o livro não apenas faria passar o tempo, como me deixaria com sono o bastante para capotar sentado. Li o livro com certo gosto e melhorei junto com ele. Depois agradeci enormemente a companhia do pequeno príncipe e esqueci de todo a literatura para me dedicar à leitura de enciclopédias, que ficavam empoleiradas dentro do armário sem que eu pudesse suspeitar de que me ensinariam coisas muito mais inúteis (e aprazíveis) do que as paixões e a ética que envolvem a imitação das ações humanas. Comecei cedo demais no Freakonomics.
Assim, para ganhar alguns conhecimentos de mineralogia e taxonomia tive de perder aquilo que se convém chamar "educação humanística". Substituia sem dramas "Don Quixote" por "Saavedra, Miguel de Cervantes (1547-1616)"; os mapas demográficos da Grécia eram muito mais interessantes do que qualquer narrativa infantil dos doze trabalhos. Lobato nem pensar: as figuras, os gráficos, os mapas, as projeções catastróficas para o ano de 1988 me satisfaziam com as potencialidades de seu masoquismo. Entretanto, com o passar dos anos, notei que essa não era a socialização mais adequada. Depois entendi que as moedas nacionais, as rochas magmáticas e o pássaro dodô de Madagascar mudavam muito com o passar dos tempos, mesmo quando extintos. As enciclopédias se tornavam artigo de colecionador. Hoje tenho de correr atrás do tempo perdido para virar o pequeno humanista que não fui. Cuidar das cousas que não morrem. Ou melhor: ser poupado do processo de morrer. Durante o fim do comunismo, não larguei um só momento do meu globo terrestre. Quem acompanha a dor alheia sabe o quanto é doloroso.
Daí a leitura de Robinson Crusoe, um clássico, posto que imortal.
Assim, para ganhar alguns conhecimentos de mineralogia e taxonomia tive de perder aquilo que se convém chamar "educação humanística". Substituia sem dramas "Don Quixote" por "Saavedra, Miguel de Cervantes (1547-1616)"; os mapas demográficos da Grécia eram muito mais interessantes do que qualquer narrativa infantil dos doze trabalhos. Lobato nem pensar: as figuras, os gráficos, os mapas, as projeções catastróficas para o ano de 1988 me satisfaziam com as potencialidades de seu masoquismo. Entretanto, com o passar dos anos, notei que essa não era a socialização mais adequada. Depois entendi que as moedas nacionais, as rochas magmáticas e o pássaro dodô de Madagascar mudavam muito com o passar dos tempos, mesmo quando extintos. As enciclopédias se tornavam artigo de colecionador. Hoje tenho de correr atrás do tempo perdido para virar o pequeno humanista que não fui. Cuidar das cousas que não morrem. Ou melhor: ser poupado do processo de morrer. Durante o fim do comunismo, não larguei um só momento do meu globo terrestre. Quem acompanha a dor alheia sabe o quanto é doloroso.
Daí a leitura de Robinson Crusoe, um clássico, posto que imortal.
1 Comments:
é raquel, espero que essa leitura tardia de frutas-pães de montão!
Postar um comentário
<< Home