29.8.05

O SISTEMA SEGUNDO MANO BROWN - Segundo as elaborações que escutamos ao longo da obra de Mano Brown, o Sistema funcionaria como um bingo evangélico, posto que: 1) conta com a contingência absoluta dos resultados concernentes a duas posições previamente marcadas; 2) poucos vencem, sendo o resultado geral merda; 3) há um Deus redentor cujo poder se presta às mais esdrúxulas comparações. Tendo em vista a presença desses três elementos, posso dizer que, hoje, fui agraciado com o papel de coadjuvante da já tão célebre vida loka. Com um tino comercial inigualável, consegui trocar com o protagonista da cena uma "cabeça estourada de bala" (a minha) por dois cigarros e um isqueiro, sendo o lance inicial estipulado em 10 reais.
Via-se que o menino só estava treinando a arte da coerção. Nesse ponto, aliás, parecia bem aplicado: chegou decidido por trás do carro, segurou a janela com força, falou com ódio na minha orelha, deu umas duas fungadas para afetar descontrole. De resto, pode-se dizer que era preto, só para reforçar a verossimilhança. Como eu não podia falar pro Denis Carvalho que olha por nós que eu não sabia ainda meu texto, comecei a contracenar no improviso: demonstrei espanto, não reagi com violência, negociei verbalmente o quanto pude. Resultado: dois cigarros e um isqueiro pela cabeça de um playboy, o que me parece mais do que justo, ainda mais quando o playboy em questão é de quinta: professor desempregado da zona leste; barrigudo; barba grande, sem aparos há pelo menos três meses; bafo; camiseta puída na gola, furada no sovaco; tênis e calças em petição de miséria; carro sujo e batido; desemprego à vista; sucesso nunca foi seu nome.
'Tá aí, Brown: finalmente uma postagem de fundo social.

O SISTEMA SEGUNDO MANO BROWN - Segundo as elaborações que escutamos ao longo da obra de Mano Brown, o Sistema funcionaria como um bingo evangélico, posto que: 1) conta com a contingência absoluta dos resultados concernentes a duas posições previamente marcadas; 2) poucos vencem, sendo o resultado geral merda; 3) há um Deus redentor cujo poder se presta às mais esdrúxulas comparações. Tendo em vista a presença desses três elementos, posso dizer que, hoje, fui agraciado com o papel de coadjuvante da já tão célebre vida loka. Com um tino comercial inigualável, consegui trocar com o protagonista da cena uma "cabeça estourada de bala" (a minha) por dois cigarros e um isqueiro, sendo o lance inicial estipulado em 10 reais.
Via-se que o menino só estava treinando a arte da coerção. Nesse ponto, aliás, parecia bem aplicado: chegou decidido por trás do carro, segurou a janela com força, falou com ódio na minha orelha, deu umas duas fungadas para afetar descontrole. De resto, pode-se dizer que era preto, só para reforçar a verossimilhança. Como eu não podia falar pro Denis Carvalho que olha por nós que eu não sabia ainda meu texto, comecei a contracenar no improviso: demonstrei espanto, não reagi com violência, negociei verbalmente o quanto pude. Resultado: dois cigarros e um isqueiro pela cabeça de um playboy, o que me parece mais do que justo, ainda mais quando o playboy em questão é de quinta: professor desempregado da zona leste; barrigudo; barba grande, sem aparos há pelo menos três meses; bafo; camiseta puída na gola, furada no sovaco; tênis e calças em petição de miséria; carro sujo e batido; desemprego à vista; sucesso nunca foi seu nome.
'Tá aí, Brown: finalmente uma postagem de fundo social.