16.9.05

ENQUANTO REFLUÍA COM O OCEANO DA VIDA (PARTE 2) - “Bardic Symbols” em Atlantic Monthly, 5 de Abril de 1860. O poema integrou a terceira edição de Leaves of Grass (1860) como o primeiro poema da seção de mesmo nome. Posteriormente chamado “As I Ebb’d with the Ocean of Life”, o poema passa a fazer parte do ciclo Sea Drift (1881) de Leaves of Grass.
Os "poemas oceânicos" são importantíssimos para a revisão de procedimentos empreendida por Whitman nos anos próximos à guerra. Em "Out of the Cradle Endlesly Rocking" vocês encontrarão um novo entendimento da figura do poeta: o "orador arruaceiro" passa a depender de uma experiência formadora, que fará surgir em seu lugar o "cantor solitário". Aqui temos a primeira elaboração desse encontro com a verdade, quando o poeta se reconhece menor diante do segredo da vida. Sem uma compreensão razoável desses poemas, fica bem difícil saber o que Whitman entendia por lírica.
Escolhi a tradução da segunda parte por comodidade: como as outras, já foi publicada em relatório. Usei nela a primeira edição do poema - Bardic Symbols - a de 1860.

***
II

Enquanto passeio por praias que não conheço,
Enquanto ouço o lamento, as vozes de homens e mulheres que naufragaram,
Enquanto exalo a brisa impalpável que se põe sobre mim,
Enquanto o oceano tão misterioso rola em minha direção, cada vez mais perto,
De uma só vez descubro, a menor coisa que me pertença, que eu veja ou toque - e não as conheço;
Eu, mesmo, apenas significo uma pequena onda, - um punhado de areia e folhas mortas à espera de reunião,
Me reúno - e mergulho como parte das areias e flutuo.

Oh, confuso, perdido,
Inclinado de frente para a própria Terra,
Horrorizado comigo mesmo, que ousei abrir a minha boca,
Agora ciente, que em meio a toda a bobagem cujos ecos recaem sobre mim jamais tive a mínima idéia de quem ou o que sou ,
Mas que diante de todos os meus poemas arrogantes meu Eu real permanece ainda intocado, jamais dito, jamais inteiramente alcançado,
Bem afastado, me gozando com acenos e menanceios de parabéns ridículos,
Com sonoras, distantes e irônicas gargalhadas a cada palavra que tenha escrito,
Me atingindo com insultos, até que eu caia sem saída sobre a areia!

Compreendo que até hoje não entendi absolutamente nada, nem um simples objeto, e que nenhum homem jamais poderá,
A natureza aqui, enquanto vejo o mar, tirando vantagem para me furar, para me picar,
Porque ousei abrir minha boca para cantar.

(OBS: A edição do poema na página da Bartleby segue uma versão intermediária, na qual o poema se chama "Elemental Drifts".)

ENQUANTO REFLUÍA COM O OCEANO DA VIDA (PARTE 2) - “Bardic Symbols” em Atlantic Monthly, 5 de Abril de 1860. O poema integrou a terceira edição de Leaves of Grass (1860) como o primeiro poema da seção de mesmo nome. Posteriormente chamado “As I Ebb’d with the Ocean of Life”, o poema passa a fazer parte do ciclo Sea Drift (1881) de Leaves of Grass.
Os "poemas oceânicos" são importantíssimos para a revisão de procedimentos empreendida por Whitman nos anos próximos à guerra. Em "Out of the Cradle Endlesly Rocking" vocês encontrarão um novo entendimento da figura do poeta: o "orador arruaceiro" passa a depender de uma experiência formadora, que fará surgir em seu lugar o "cantor solitário". Aqui temos a primeira elaboração desse encontro com a verdade, quando o poeta se reconhece menor diante do segredo da vida. Sem uma compreensão razoável desses poemas, fica bem difícil saber o que Whitman entendia por lírica.
Escolhi a tradução da segunda parte por comodidade: como as outras, já foi publicada em relatório. Usei nela a primeira edição do poema - Bardic Symbols - a de 1860.

***
II

Enquanto passeio por praias que não conheço,
Enquanto ouço o lamento, as vozes de homens e mulheres que naufragaram,
Enquanto exalo a brisa impalpável que se põe sobre mim,
Enquanto o oceano tão misterioso rola em minha direção, cada vez mais perto,
De uma só vez descubro, a menor coisa que me pertença, que eu veja ou toque - e não as conheço;
Eu, mesmo, apenas significo uma pequena onda, - um punhado de areia e folhas mortas à espera de reunião,
Me reúno - e mergulho como parte das areias e flutuo.

Oh, confuso, perdido,
Inclinado de frente para a própria Terra,
Horrorizado comigo mesmo, que ousei abrir a minha boca,
Agora ciente, que em meio a toda a bobagem cujos ecos recaem sobre mim jamais tive a mínima idéia de quem ou o que sou ,
Mas que diante de todos os meus poemas arrogantes meu Eu real permanece ainda intocado, jamais dito, jamais inteiramente alcançado,
Bem afastado, me gozando com acenos e menanceios de parabéns ridículos,
Com sonoras, distantes e irônicas gargalhadas a cada palavra que tenha escrito,
Me atingindo com insultos, até que eu caia sem saída sobre a areia!

Compreendo que até hoje não entendi absolutamente nada, nem um simples objeto, e que nenhum homem jamais poderá,
A natureza aqui, enquanto vejo o mar, tirando vantagem para me furar, para me picar,
Porque ousei abrir minha boca para cantar.

(OBS: A edição do poema na página da Bartleby segue uma versão intermediária, na qual o poema se chama "Elemental Drifts".)

2 Comments:

At 10:40 AM, Blogger Camila Rodrigues said...

adoro as pessoas que escrevem comentários para você, Brunão...dão um colorido todo especial ao conjunto da obra... risos.
Passsei para dizer que eu sobrevivi ( essa é a palavra ) aos últimos acontecimentos e, até segunda ordem, o coração continua...

Estou pensando com especial carinho na elegancia da Sandra... veremos.
Obrgada pelo apoio
Camila

 
At 2:56 AM, Blogger indigesto said...

ah,meu chapa... vai tequi suá

 

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