6.11.05

O NOME DA PEÇA: CALDAS AULETE - Mais uma estória passada em Praia Grande. Meu pai comprou um carro e pediu para que eu fosse buscá-lo. Fui. Saindo da loja com o carro, notei algo curioso: o velocímetro não funcionava. Dei meia volta e fui para a mecânica da concessionária. Ói', esse negóci'aí é pião. Ou seja: você vai esperar muito tempo até acharmos a peça. Dei tempo à peça. Saí desbravando a terra, imprimindo em meu cérebros costumes, espetáculos, arquitetura, tudo para uso futuro. Assim diria Whitman. Eu fui a esmo. Topei com um sebo. Romances a quatro reais. Bons preços. No fundo da casa, uma placa "cuidado, cão antisocial" e a seção de enciclopédias e dicionários. Envolto em cheiro de cachorro e pó, os cinco volumes de um Caldas Aulete em ótimo estado de conservação. Perguntar não mata. Fui de encontro à atendente. Vinte e cinco reais. Como? Isso mesmo. Vinte e cinco reais, cinco por volume. Como? Cinco por volume. Ajeitei o aparelho de surdez. A senhora quer dizer que são cinco reais por volume, isto é, vinte e cinco reais? Hein? A senhora está vendendo os cinco volumes por vinte e cinco reais? Isso.
Historicamente, o leitor sabe que não achamos um Caldas Aulete por menos de cem reais. Até então, os autos de minha vida registravam o Caldas Aulete do Finger (um amigo poeta, seresteiro e namorado) como o mais barato já encontrado: trinta reais, comprado junto de um proprietário desesperado. Eu tinha consciência, portanto, da oportunidade que a História me reservava e saí à caça de um banco. Hoje me considero, apesar dos cinco quilômetros que caminhei até a casa do meu pai com os volumes na mão, agüentando dores nos ombros e areia nos olhos, um homem realizado.
O velocímetro ficou pronto dois dias depois.

O NOME DA PEÇA: CALDAS AULETE - Mais uma estória passada em Praia Grande. Meu pai comprou um carro e pediu para que eu fosse buscá-lo. Fui. Saindo da loja com o carro, notei algo curioso: o velocímetro não funcionava. Dei meia volta e fui para a mecânica da concessionária. Ói', esse negóci'aí é pião. Ou seja: você vai esperar muito tempo até acharmos a peça. Dei tempo à peça. Saí desbravando a terra, imprimindo em meu cérebros costumes, espetáculos, arquitetura, tudo para uso futuro. Assim diria Whitman. Eu fui a esmo. Topei com um sebo. Romances a quatro reais. Bons preços. No fundo da casa, uma placa "cuidado, cão antisocial" e a seção de enciclopédias e dicionários. Envolto em cheiro de cachorro e pó, os cinco volumes de um Caldas Aulete em ótimo estado de conservação. Perguntar não mata. Fui de encontro à atendente. Vinte e cinco reais. Como? Isso mesmo. Vinte e cinco reais, cinco por volume. Como? Cinco por volume. Ajeitei o aparelho de surdez. A senhora quer dizer que são cinco reais por volume, isto é, vinte e cinco reais? Hein? A senhora está vendendo os cinco volumes por vinte e cinco reais? Isso.
Historicamente, o leitor sabe que não achamos um Caldas Aulete por menos de cem reais. Até então, os autos de minha vida registravam o Caldas Aulete do Finger (um amigo poeta, seresteiro e namorado) como o mais barato já encontrado: trinta reais, comprado junto de um proprietário desesperado. Eu tinha consciência, portanto, da oportunidade que a História me reservava e saí à caça de um banco. Hoje me considero, apesar dos cinco quilômetros que caminhei até a casa do meu pai com os volumes na mão, agüentando dores nos ombros e areia nos olhos, um homem realizado.
O velocímetro ficou pronto dois dias depois.