8.12.05

ASCENSÃO E QUEDA DAS CIVILIZAÇÕES - Quando sou acometido de solenidade, penso nas antigas civilizações.
Não é sempre que isso me acontece, apesar de ser uma pessoa propensa à nostalgia. Mas, às vezes - sobretudo quando estou cercado de muitas pessoas, em bares, feiras, shoppings, rodoviárias, e começo a me deixar levar pelo ruído de todas as conversas e gritos, que de ensurdecedores se reduzem a um burburinho - começo a imaginá-las todas mortas por um ato da mais absoluta indiferença.
Ou seja: elas não caem de repente aos meus pés. Elas simplesmente ascendem à mediocridade infinita. É aí que todas elas ganham, aos meus olhos, sua absoluta individualidade no eterno cotidiano de suas vidas. Comprando uma revista, bebendo uma cerveja, correndo para entrar no ônibus, vendendo frutas, arrumando o carrinho do bebê, elas se tornam mais do que indivíduos - elas se tornam unidades, recobertas com o véu da Antigüidade.
As pessoas reverenciam a Antigüidade pois só passados mil anos de seu desaparecimento elas conseguiriam ter alguma dignidade. As civilizações, bem ou mal, são dignas: os reis sanguinários, os sacrifícios, as viagens, os escravos - já não sofremos por eles, pois suas vidas se completaram pela imagem que criamos delas. Não fosse isso, a humanidade não teria alimentado mitos espaciais como os da cápsula que viaja galáxias para cair em algum ponto do Oceano daqui a 3000 anos. É o desejo de se ver morto-vivo. Às vezes, testes como os que aplicaram aos restos mortais de Beethoven insistem em destruir tais pretensões; menos idiota e mais dramático, por exemplo, seria a luta de uma bactéria pela sobrevivência, buscando células e criando infecções no pulmão de um cadáver de algumas décadas. De qualquer forma, as civilizações são o melhor remédio para a vontade de falar, ainda mais quando ela fica insuportável.

ASCENSÃO E QUEDA DAS CIVILIZAÇÕES - Quando sou acometido de solenidade, penso nas antigas civilizações.
Não é sempre que isso me acontece, apesar de ser uma pessoa propensa à nostalgia. Mas, às vezes - sobretudo quando estou cercado de muitas pessoas, em bares, feiras, shoppings, rodoviárias, e começo a me deixar levar pelo ruído de todas as conversas e gritos, que de ensurdecedores se reduzem a um burburinho - começo a imaginá-las todas mortas por um ato da mais absoluta indiferença.
Ou seja: elas não caem de repente aos meus pés. Elas simplesmente ascendem à mediocridade infinita. É aí que todas elas ganham, aos meus olhos, sua absoluta individualidade no eterno cotidiano de suas vidas. Comprando uma revista, bebendo uma cerveja, correndo para entrar no ônibus, vendendo frutas, arrumando o carrinho do bebê, elas se tornam mais do que indivíduos - elas se tornam unidades, recobertas com o véu da Antigüidade.
As pessoas reverenciam a Antigüidade pois só passados mil anos de seu desaparecimento elas conseguiriam ter alguma dignidade. As civilizações, bem ou mal, são dignas: os reis sanguinários, os sacrifícios, as viagens, os escravos - já não sofremos por eles, pois suas vidas se completaram pela imagem que criamos delas. Não fosse isso, a humanidade não teria alimentado mitos espaciais como os da cápsula que viaja galáxias para cair em algum ponto do Oceano daqui a 3000 anos. É o desejo de se ver morto-vivo. Às vezes, testes como os que aplicaram aos restos mortais de Beethoven insistem em destruir tais pretensões; menos idiota e mais dramático, por exemplo, seria a luta de uma bactéria pela sobrevivência, buscando células e criando infecções no pulmão de um cadáver de algumas décadas. De qualquer forma, as civilizações são o melhor remédio para a vontade de falar, ainda mais quando ela fica insuportável.

1 Comments:

At 3:33 PM, Blogger Camila Rodrigues said...

Putz
que bonito esse post.

 

Postar um comentário

<< Home