30.12.05
CÁ, SEI QUE FUI ESCROTO... MAS JEREMY BENTHAM OLHA POR MIM - Há alguns minutos, fui acometido de um ataque de insensibilidade e zombei da morte de uma pessoa notável. Sejamos mais claros: eu disse que ela concorrerá ao prêmio paulistano de taxidermia acadêmica. Não, eu não disse isso. Eu disse que há quem queira empalhá-la. Na verdade, não sei se há. O caso é que, notando sua preocupação (pertinente), pensei de imediato em uma prática muito comum no meio acadêmico: nós esvaziamos os nomes de seus significados e os preenchemos com palha. A palha somos nós. Nós, os espantalhos cheios de projetos colonizadores, armados e prontos para a disputa sangrenta dentro e fora das colônias. As colônias de clima temperado, frutas frescas e hábitos elegantes onde praticamos nosso canibalismo. Only the fittest survives.
A taxidermia me veio a mente graças a Jeremy Bentham. Mais conhecido por seu liberalismo, Bentham tinha idéias excêntricas sobre a morte. Isto que vemos logo abaixo é seu corpo embalsamado. Bentham acreditava que o enterro dos mortos era um costume de ignorantes, que não sabiam das propriedades ornamentais, didáticas e acadêmicas dos mortos.
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Dancing Bentham!: reparem que as pernas de Bentham não param de se mexer! Um gif animado do Iluminismo!
Bentham achava excepcional adornar a sala de estar com o corpo do antigo chefe de família. É possível que estivesse pensando nas antigas máscaras funerárias romanas. Mas Bentham também era um homem de ciência e ele acreditava na auctoritas in praesentia. Um acadêmico morto faria mais pela ciência emprestando seu corpo embalsamado às cátedras e às salas de aula, onde sua palavra (obviamente ministrada por um discípulo ou assistente) teria crivo permanente. É justo: quem teria coragem fazer o segundo-Nietzsche com aquele bigode de morsa morta roçando a nuca? Aposto que Niezsche não seria tão citado por aí. Nessa mão, Bentham não entrava.
O curioso sobre a história de Bentham em morte é que seu corpo não pôde ser totalmente embalsamado. O que vocês vêem logo acima é um corpo embalsamado e uma cabeça de cera. Quando os médicos começaram a retirar os líquidos da cabeça de Bentham, seu tecido começou a enrugar como um maracujá. Não: não era como um maracujá. Bentham estava desfigurado. Um maracujá agora estragaria minha dissertação como os dois médicos lhe estragaram a cara. Para não configurar traição, os dois então tiveram uma idéia: fizeram uma cópia de cera da cabeça do filósofo para efeitos de figuração e embalsamaram o que sobrou da verdadeira, posta em uma redominha de vidro para ficar no chão entre as pernas do morto, em respeito a seus ideais.
Extreme Makeover: Antes e depois
Essa história é linda demais, sempre me emociono quando conto. Fico eu imaginando a impávida Verossimilhança visitando o Pai do Panóptico diariamente.
MAIS PERTO - Com isso tudo, me resta comentar que acabei de ver Closer. Não tinha assistido e, não fosse pela Natalie Portman (que, arrisco a dizer, admiro desde os tempos em que admirá-la era evidência de pedofilia) teria sido uma experiência inócua. Espero que algum seguidor tenha tido a brilhante idéia de levar Bentham ao cinema. Ele teria adorado.
CÁ, SEI QUE FUI ESCROTO... MAS JEREMY BENTHAM OLHA POR MIM - Há alguns minutos, fui acometido de um ataque de insensibilidade e zombei da morte de uma pessoa notável. Sejamos mais claros: eu disse que ela concorrerá ao prêmio paulistano de taxidermia acadêmica. Não, eu não disse isso. Eu disse que há quem queira empalhá-la. Na verdade, não sei se há. O caso é que, notando sua preocupação (pertinente), pensei de imediato em uma prática muito comum no meio acadêmico: nós esvaziamos os nomes de seus significados e os preenchemos com palha. A palha somos nós. Nós, os espantalhos cheios de projetos colonizadores, armados e prontos para a disputa sangrenta dentro e fora das colônias. As colônias de clima temperado, frutas frescas e hábitos elegantes onde praticamos nosso canibalismo. Only the fittest survives.
A taxidermia me veio a mente graças a Jeremy Bentham. Mais conhecido por seu liberalismo, Bentham tinha idéias excêntricas sobre a morte. Isto que vemos logo abaixo é seu corpo embalsamado. Bentham acreditava que o enterro dos mortos era um costume de ignorantes, que não sabiam das propriedades ornamentais, didáticas e acadêmicas dos mortos.
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Dancing Bentham!: reparem que as pernas de Bentham não param de se mexer! Um gif animado do Iluminismo!
Bentham achava excepcional adornar a sala de estar com o corpo do antigo chefe de família. É possível que estivesse pensando nas antigas máscaras funerárias romanas. Mas Bentham também era um homem de ciência e ele acreditava na auctoritas in praesentia. Um acadêmico morto faria mais pela ciência emprestando seu corpo embalsamado às cátedras e às salas de aula, onde sua palavra (obviamente ministrada por um discípulo ou assistente) teria crivo permanente. É justo: quem teria coragem fazer o segundo-Nietzsche com aquele bigode de morsa morta roçando a nuca? Aposto que Niezsche não seria tão citado por aí. Nessa mão, Bentham não entrava.
O curioso sobre a história de Bentham em morte é que seu corpo não pôde ser totalmente embalsamado. O que vocês vêem logo acima é um corpo embalsamado e uma cabeça de cera. Quando os médicos começaram a retirar os líquidos da cabeça de Bentham, seu tecido começou a enrugar como um maracujá. Não: não era como um maracujá. Bentham estava desfigurado. Um maracujá agora estragaria minha dissertação como os dois médicos lhe estragaram a cara. Para não configurar traição, os dois então tiveram uma idéia: fizeram uma cópia de cera da cabeça do filósofo para efeitos de figuração e embalsamaram o que sobrou da verdadeira, posta em uma redominha de vidro para ficar no chão entre as pernas do morto, em respeito a seus ideais.
Extreme Makeover: Antes e depois
Essa história é linda demais, sempre me emociono quando conto. Fico eu imaginando a impávida Verossimilhança visitando o Pai do Panóptico diariamente.
MAIS PERTO - Com isso tudo, me resta comentar que acabei de ver Closer. Não tinha assistido e, não fosse pela Natalie Portman (que, arrisco a dizer, admiro desde os tempos em que admirá-la era evidência de pedofilia) teria sido uma experiência inócua. Espero que algum seguidor tenha tido a brilhante idéia de levar Bentham ao cinema. Ele teria adorado.

2 Comments:
Jésus,
Comecei a ler pensando: erros de digitação acometem a todos...", mas depois vi que o Cá em quentão não era um Tá mal escrito, podia ser mesmo Cá e essa cá podia ser eu! hahaha
Glória! ahahaha
Mas, olha, já que você se deixou ser cruel, eu também quero: morro de invejo dela, que pode morrer aos 86 anos!
Mas, chega de morte...
ano novo VIDA NOVA! Inclusive para você, meu futuro mestre...
A propósito: cntinuam essas letras chatas... pâncreas, pâncrea..
vim aqui para dizer que o Tuta reacordou do sono forçado...
Beijos
Ca
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