4.12.05
CARTA PARA O CHE GUEVARA -
Caro Ernesto "Che" Guevara,
Nunca comprei uma camiseta com o seu rosto estampado.
Quando eu era criança, tinha um primo que adorava ícones libertários, dentre os quais você figurava em inúmeros suportes. Como todos - pôsteres, broches, bandeiras - eram vermelhos, achava aos oito anos de idade que você pudesse ter algum problema de pele e até temia pela saúde do meu primo, de que gostava - e ainda gosto - muito.
Com o tempo, percebi que você não era vermelho. Pela recorrência da mesma pose imponente, o olhar decidido e a boina obrigatória, não ficava contrapor sua imagem a momentos mais humanos, muitas vezes pensados pelo gosto de escarnecer. Foi quando comecei a investir meu medo precioso em relação a todos que o aprisionavam em gestos tão intangíveis e em uma cor tão forte. O comércio que envolvia seus ideais vermelhos não era coisa que prestava e seus militantes, muitas vezes, não transpareciam o comportamento mais adequado a certos ideais de tolerância, igualdade e felicidade. Sinceramente, todas essas coisas pequenas me conduziram à indiferença - coisa de adolescente ou exploração de ingenuidades, sua imagem havia se tornado iníqua.
O caso, Che, é que depois de velho preciso contar com a sua imagem vergonhosa. Pois eu ainda posso fazer dela um culto de armário, uma fé silenciosa, um substituto para os carneirinhos, qualquer coisa que acalme ou me dê alguma ilusão de luta legítima. Em tempos tão bicudos, em que nada resta senão ícones e cultos, é na falta de opções e vontade de botar a cabeça para funcionar a serviço de um mundo tão medíocre que me rendo ao seu, do qual ainda poderia esperar, desde que em sigilo e na mais absoluta solidão, alguma humanidade.
Atenciosamente,Pâncreas.
PS: Isso não significa que comprarei uma camiseta. Menos, Che.
CARTA PARA O CHE GUEVARA -
Caro Ernesto "Che" Guevara,
Nunca comprei uma camiseta com o seu rosto estampado.
Quando eu era criança, tinha um primo que adorava ícones libertários, dentre os quais você figurava em inúmeros suportes. Como todos - pôsteres, broches, bandeiras - eram vermelhos, achava aos oito anos de idade que você pudesse ter algum problema de pele e até temia pela saúde do meu primo, de que gostava - e ainda gosto - muito.
Com o tempo, percebi que você não era vermelho. Pela recorrência da mesma pose imponente, o olhar decidido e a boina obrigatória, não ficava contrapor sua imagem a momentos mais humanos, muitas vezes pensados pelo gosto de escarnecer. Foi quando comecei a investir meu medo precioso em relação a todos que o aprisionavam em gestos tão intangíveis e em uma cor tão forte. O comércio que envolvia seus ideais vermelhos não era coisa que prestava e seus militantes, muitas vezes, não transpareciam o comportamento mais adequado a certos ideais de tolerância, igualdade e felicidade. Sinceramente, todas essas coisas pequenas me conduziram à indiferença - coisa de adolescente ou exploração de ingenuidades, sua imagem havia se tornado iníqua.
O caso, Che, é que depois de velho preciso contar com a sua imagem vergonhosa. Pois eu ainda posso fazer dela um culto de armário, uma fé silenciosa, um substituto para os carneirinhos, qualquer coisa que acalme ou me dê alguma ilusão de luta legítima. Em tempos tão bicudos, em que nada resta senão ícones e cultos, é na falta de opções e vontade de botar a cabeça para funcionar a serviço de um mundo tão medíocre que me rendo ao seu, do qual ainda poderia esperar, desde que em sigilo e na mais absoluta solidão, alguma humanidade.
Atenciosamente,Pâncreas.
PS: Isso não significa que comprarei uma camiseta. Menos, Che.
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