8.12.05
UM BAIRRO INDUSTRIAL - Moro há quase trinta anos cercado de pequenas fábricas. É inacreditável como somos habituados a conviver com esses lugares misteriosos. De um lado (o leste), nós temos a BOR. O que vem a ser BOR? Não me pergunte. Pelo som que me acorda há quase trinta anos, deve ser alguma coisa envolvendo metais. Agora mesmo estava voltando do almoço quando vi uma parte do galpão aberto e parei para ver os movimentos violentos e rápidos de uma "prensa transversal". O que ela produzia com tanta força? É impossível dizer. Fiquei parado ali tentando compreender o que saía daquelas pancadas, mas depois de uns 30 segundos percebi que não tinha a mínima idéia da utilidade daquela máquina. Quem produziu, antes, aquela máquina estranha, tão específica? Uma "prensa transversal"?
A oeste, minha sorte não é melhor. A princípio, parece um depósito de tubos de aço oxidado. Ele ocupa um espaço considerável do quarteirão vizinho ao prédio. À direita, uma empilhadeira suspensa por estruturas de aço carrega os tubos imensos de um lado para o outro dentro de um cubículo - essa é sua função. À esquerda - e sem ligação alguma com essa área da empilhadeira - temos um extenso pátio repleto de tubos de aço oxidados. Os caminhões que dormem ali são um possível indício de transporte. No centro fica uma casa térrea enorme, o escritório. Certa vez, fazendo uma balisa apressada, destruí o parachoque da Mercedes do dono. Nem adiantava fugir. O segurança viu, chamou o dono do carro, que imagino desde então ser o dono do depósito. Ele pediu para que eu entrasse. Foi a única vez que tive a chance de ver o que se passava lá dentro. Ele me ofereceu uma cadeira em sua sala. Sentei e comecei a imaginar se sairia vivo de lá. Uma ligação para casa? Mãe, fui abduzido pelo dono do galpão de tubos de aço. Não. Ele saiu da sala e me deixou lá dentro. Cinco minutos depois surgiu uma loira daquelas de matar. Ela apareceu com um sorriso, uma cara de pena. Me disse que ia ficar tudo bem, que ia conversar com ele, que não precisava pagar o conserto, você vai ver. Pensei que depois de tanto carinho fosse ganhar mais alguma coisa, mas ela também saiu. Dez minutos depois, o dono volta tão sorridente quanto ela e me deixa sair. Caminhando para o prédio, ainda olhei para trás, para dar mais uma olhada nas vítimas do acidente, aquela Mercedes linda de parachoque arrebentado e meu Uno 90 caquético e intacto. A loira ainda estava na porta e fez um aceno.
Nunca mais os vi. A Mercedes ficou ali parada sem parachoque uns 3 meses. Depois disso, desapareceu.
UM BAIRRO INDUSTRIAL - Moro há quase trinta anos cercado de pequenas fábricas. É inacreditável como somos habituados a conviver com esses lugares misteriosos. De um lado (o leste), nós temos a BOR. O que vem a ser BOR? Não me pergunte. Pelo som que me acorda há quase trinta anos, deve ser alguma coisa envolvendo metais. Agora mesmo estava voltando do almoço quando vi uma parte do galpão aberto e parei para ver os movimentos violentos e rápidos de uma "prensa transversal". O que ela produzia com tanta força? É impossível dizer. Fiquei parado ali tentando compreender o que saía daquelas pancadas, mas depois de uns 30 segundos percebi que não tinha a mínima idéia da utilidade daquela máquina. Quem produziu, antes, aquela máquina estranha, tão específica? Uma "prensa transversal"?
A oeste, minha sorte não é melhor. A princípio, parece um depósito de tubos de aço oxidado. Ele ocupa um espaço considerável do quarteirão vizinho ao prédio. À direita, uma empilhadeira suspensa por estruturas de aço carrega os tubos imensos de um lado para o outro dentro de um cubículo - essa é sua função. À esquerda - e sem ligação alguma com essa área da empilhadeira - temos um extenso pátio repleto de tubos de aço oxidados. Os caminhões que dormem ali são um possível indício de transporte. No centro fica uma casa térrea enorme, o escritório. Certa vez, fazendo uma balisa apressada, destruí o parachoque da Mercedes do dono. Nem adiantava fugir. O segurança viu, chamou o dono do carro, que imagino desde então ser o dono do depósito. Ele pediu para que eu entrasse. Foi a única vez que tive a chance de ver o que se passava lá dentro. Ele me ofereceu uma cadeira em sua sala. Sentei e comecei a imaginar se sairia vivo de lá. Uma ligação para casa? Mãe, fui abduzido pelo dono do galpão de tubos de aço. Não. Ele saiu da sala e me deixou lá dentro. Cinco minutos depois surgiu uma loira daquelas de matar. Ela apareceu com um sorriso, uma cara de pena. Me disse que ia ficar tudo bem, que ia conversar com ele, que não precisava pagar o conserto, você vai ver. Pensei que depois de tanto carinho fosse ganhar mais alguma coisa, mas ela também saiu. Dez minutos depois, o dono volta tão sorridente quanto ela e me deixa sair. Caminhando para o prédio, ainda olhei para trás, para dar mais uma olhada nas vítimas do acidente, aquela Mercedes linda de parachoque arrebentado e meu Uno 90 caquético e intacto. A loira ainda estava na porta e fez um aceno.
Nunca mais os vi. A Mercedes ficou ali parada sem parachoque uns 3 meses. Depois disso, desapareceu.
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